A Arte Urbana chega a 2019 com estatuto de referência no panorama da arte contemporânea. Longe estão os dias em que as de inscrição nas paredes (de forma ilegal) eram associados à criminalidade, delinquência ou a fenómenos juvenis de reduzido valor artístico.

É nos anos 80, que Jean-Michel Basquiat inicia o processo de cruzamento de territórios, entre a galeria de arte e as ruas de Nova Iorque. As linguagens da rua, do rabisco, da história pessoal e colectiva, do afropunk, entrelaçam-se com o apurado trabalho técnico em vários meios, desde a escultura, desenho e pintura. Em Portugal o fenómeno é mais recente. Artistas como Vhils ou Bordalo II alcançam o reconhecimento nacional e internacional a partir de 2008.

Arte Urbana como factor de mudança
Na última década a arte urbana, também designada por street art, tem sido utilizada como ferramenta de reabilitação do edificado urbano e de mudança social. A necessidade de conservação de equipamentos e habitações por parte dos municípios, aliada à premência no envolvimento dos cidadãos na resolução de problemas sociais e económicos, têm obrigado à criação de respostas alternativas. São vários os concelhos que promovem festivais de arte urbana, tendo como objectivo a requalificação de bairros, na sua maioria de habitação social e a dinamização da comunidade. Esta aposta permite quebrar barreiras, transformando o bairro numa galeria de arte a céu aberto, facilitando o acesso dos residentes a obras de artistas contemporâneos. Com estas intervenções para além da alteração estética imediata do espaço público, fomenta-se a mudança da percepção da imagem da comunidade. A valorização do espaço público e o reconhecimento das histórias individuais e colectivas são o resultado de processos de trabalho integrado e participado.

Do subúrbio para o mundo rural
Considerado um fenómeno urbano, particularmente presente no subúrbio das grandes cidades, a street art tem encontrado terreno fértil nas áreas rurais. Poderemos considerar 2008 como ano que muda o paradigma da Arte Urbana na cidade de Lisboa. É nesse ano que é criada pela Câmara Municipal de Lisboa a Galeria de Arte Urbana (GAU). A GAU permitiu criar zonas de experimentação e criação de novas obras de street art, de forma regulamentada. Para além destes espaços criativos, foram comissariadas várias obras a artistas para intervencionarem em empenas na cidade de Lisboa. É em 2016 que surge o Festival Muro, que tem em 2019 a sua 3ª edição. Este festival criou roteiros de murais no Bairro Padre Cruz em Carnide, entre a Rotunda do Relógio e o Bairro Marquês de Abrantes em Marvila e este ano ocupará o território do Bairro da Cruz Vermelha até à Alta de Lisboa, na freguesia do Lumiar.

Mas a Arte Urbana não é apenas um fenómeno citadino. Em 2011 surge o Wool – Covilhã Urban Art, que transformou a paisagem da cidade serrana. Recuperando memórias de um passado fortemente industrializado, o Festival de Arte Urbana colocou a Covilhã no roteiro da street art. No mesmo ano, na ilha de São Miguel – Açores, dá-se a 1ª edição do Walk & Talk, um festival de carácter experimental e participativo que é já um evento obrigatório no calendário da arte contemporânea. A alteração de percepção da Arte Urbana, por parte dos cidadão e a consequente valorização do espaço urbanístico, tem levado vários municípios por todo o país a acolher festivais de pequena, média e grande dimensão. A ESTAU – Estarreja Arte Urbana é um desses casos, um festival local que tem contribuído para a internacionalização de writers (autores de murais e graffitis), portugueses.

Uma arte dos 8 aos 80
A popularização da street art por todo o país, tem permitido o acesso do público generalizado à sua linguagem estética. Exemplo do trabalho de sensibilização é o projecto Lata 65, que Lara Seixo Rodrigues iniciou em 2012. Este foi o primeiro workshop de arte urbana para idosos, com utentes do Centro Paroquial de Alcântara, em Lisboa. São várias as intervenções realizadas por este projecto, que já alcançou a internacionalização com actividades no Brasil, EUA e Espanha.
A GAU, têm também investido no serviço educativo, organizando visitas guiadas e workshops para crianças e adolescentes.

É a transversalidade da arte urbana, que recupera linguagens vindas das belas-artes, da tipografia, do desenho, da banda desenhada e a sua presença no espaço público, que faz dela uma das mais democráticas formas de arte. São galerias de arte de grande escala ao ar livre, para usufruto de toda a população.