Um pouco de História…
O Pinhal de Leiria (Pinhal d´El-Rei) situa-se no concelho da Marinha Grande e tem uma área de mais de 11.000 hectares (ha).
O pinhal foi inicialmente mandado plantar pelo rei D. Afonso III (1248-1279), no século XIII, sendo mais tarde, entre 1279 e 1325, aumentado substancialmente pelo rei D. Dinis I, para as dimensões actuais. Procedeu-se então à sementeira duma área extensa que acompanha o litoral, especialmente com recurso ao pinheiro-bravo.
Os incêndios já fazem parte da história da Mata Nacional, tendo em 1824, ocorrido o primeiro que consumiu cerca de 5000 hectares, seguido por outros que ocorreram em 1916, consumindo mais de 150 hectares, e em 1941 um ciclone terá afetado cerca de 300.000 árvores.
E tudo o fogo levou…
O incêndio que deflagrou no dia 15 de outubro de 2017, no Pinhal de Leiria, devastou mais de 86% da Mata Nacional. Na realidade, foram dois incêndios que levaram à queima de mais de 9.000ha.
Autor: João Pinho
A existência de silvas e terrenos baldios por limpar, poderão ter estado na origem num dos maiores incêndios de que há memória, no “coração” verde de Portugal.
A investigação do Ministério Público concluiu que, a falta de meios de combate aos fogos sem a possibilidade de combate direto, as condições meteorológicas extremas e a velocidade de propagação muito elevada, permitiram a proliferação do incêndio.
Incêndios em números no ano de 2019
No ano de 2019, entre 1 de janeiro e 16 de outubro de 2019, ocorreram um total de 10841 incêndios rurais, dos quais os três maiores deflagraram nos concelhos de Vila de Rei, Águeda e Baião.
Do total de 10841 incêndios rurais verificados no ano de 2019, as causas mais frequentes foram: Incendiarismo – Imputáveis (29%) e Queimadas de sobrantes florestais ou agrícolas (16%). Conjuntamente, as várias tipologias de queimadas e queimas representam 33% das causas apuradas.
Da análise por distrito, destacam-se com maior número de incêndios, e por ordem decrescente, os distritos de Porto (1843), Aveiro (924) e Braga (912).
O distrito mais afetado, no que concerne à área ardida, é Santarém, com 6711 hectares, cerca de 16% da área total ardida até à data, seguido de Castelo Branco com 6391 hectares (16% do total) e de Vila Real com 3243 hectares (8% do total).
No presente…
Em Maio de 2020, o Presidente do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) afirmou que a a reflorestação natural do Pinhal de Leiria demorará mais de uma década, numa audição na comissão parlamentar de Agricultura e Mar, na Assembleia da República, em Lisboa.
As plantas infestantes que competem com novos pinheiros e falta de mão-de-obra na Marinha Grande são duas das principais ameaças à recuperação da Mata Nacional de Leiria, que ardeu quase completamente em 2017.
A regeneração desta área florestal litoral está a avançar bem, segundo o Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), que aponta taxas de sucesso de reflorestação superiores a 80%.
O trabalho que está a ser feito nas áreas ardidas, sendo que o ICNF apenas gere 3% da área nacional florestal, os restantes 87% são terrenos privados, é criar unidades de gestão da paisagem, designadamente a criação dos mosaicos, com plantações de medronheiro ou outras espécies adequadas para conter a progressão do fogo, e um mecanismo de financiamento, com algum retorno para que os proprietários que tenham perdas de rendimento possam ser compensados.
O futuro passa pela criação de áreas de paisagem florestal biodiversas, com capacidade de ter uma maior resiliência ao fogo, afirmou o Presidente deste Instituto.
O voluntariado e a floresta portuguesa
Ainda não tinham passado três meses, do grande incêndio de outubro de 2017, já o primeiro-ministro António Costa indicava que era urgente reflorestar o pinhal de Leiria, trazendo de volta o património perdido.
O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas é a entidade que indica as áreas potenciais de intervenção, presta apoio nas acções de voluntariado e no armazenamento de plantas e materiais, entre outros tipos de cooperação. Neste sentido, este instituto divulgou que na primeira época (2018/2019) plantaram-se 5.712 árvores/arbustos autóctones em cerca 9,612 hectares na Mata Nacional de Leiria (MNL), sendo os restantes 11,388 hectares intervencionados até Março de 2020.
Este Instituto prevê que a execução do Plano de Investimentos Matas Públicas do Centro e Litoral, que inclui a Mata Nacional de Leiria, permitirá até 2022 a arborização de 2400 hectares desta área e o acompanhamento da regeneração natural de 6400 hectares.
No entanto, e tendo em conta que os concelhos que apresentaram maior número de incêndios em 2019 localizam-se, com exceção de Beja, todos a norte do Tejo e caracterizam-se por elevada densidade populacional, presença de grandes aglomerados urbanos ou utilização tradicional do fogo na gestão agroflorestal, bem como que está provado que a ação humana é determinante na origem dos incêndios florestais, verifica-se que a temática sobre a reflorestação terá que ser analisada num contexto nacional, e não local.
Com a necessidade de se atingir a temperatura de cerca de 180ºC para haver ignição, dificilmente esta é atingida de forma natural, à exceção das faíscas, estas sim completamente absortas à intervenção humana. Um terço dos incêndios florestais registados em 2019, e investigados, tiveram como causa queimadas e queimas, revela o último relatório do ICNF.
Desde há três anos, a sociedade civil e as empresas privadas com departamentos específicos ligados à área da responsabilidade social, organizam dezenas de eventos e ações de voluntariado no âmbito da reflorestação. Mais de 90% dos pedidos de ações de reflorestação, recebidos pelo ICNF em 2019, foram para a área do Pinhal de Leiria, observando-se desta forma a necessidade que o cidadão tem em que diminuir a sua pegada ecológica.
Analisadas as várias vertentes desta “puzzle” da ações de voluntariado, verifica-se que o cidadão e/ou a empresa apenas pretende ser útil à sociedade, se a ação for realizada no “coração” de Portugal, que ficou à merçê das chamas…
Tendo o País cerca de 85% de floresta cuja propriedade é privada, e apenas 3% pertence ao Estado Português, sendo os restantes 12% baldios, e pertença de comunidades locais, porque não o ICNF abraçar um projeto de voluntariado de âmbito nacional, com um calendário anual de talhões espalhados por todos os distritos de Portugal, com várias espécies autóctones, cujas sementes vêm do Centro de Sementes Florestais, gerido pelo próprio ICNF e garantindo a plantação de sementes nacionais, permitindo que o cidadão possa beneficiar a sua comunidade local, em vez de haver uma “bandeira” única para a reflorestação, designada Pinhal de Leira?!
Fica a sugestão.
