Alguns dos adolescentes portugueses tinham 11 anos quando fizeram sexo pela primeira vez. É pelo menos a conclusão de um estudo da Organização Mundial de Saúde realizado em 2014 sobre entre outros assuntos a sexualidade dos jovens do nosso país. Participaram da entrevista 6026 alunos de 473 turmas do 6º ao 10º ano. No 10ª ano, 22 por cento já se envolveram sexualmente e, destes, a maioria afirma que tinha 14 anos quando teve a primeira relação sexual. Um outro estudo realizado em 2006 com a participação do Ministério da Educação e da Universidade Católica contraria esta tendência. Na altura, segundo o resultado do inquérito a 2000 estudantes do 10º ano ao 12º ano, ninguém havia tido relações sexuais antes dos 15 anos.

As adolescentes do século XXI liberalizaram o sexo. Filhas de uma geração de mente aberta derrubaram dogmas em silêncio. O Capuchinho Vermelho devorou o Lobo.

Começam por ouvir as mesmas estórias que os pais, mas foi-lhes também comunicado a possibilidade desses contos não terem moral alguma. Cresceram com ceticismo.

Desde sempre com acesso a meios de comunicação fácil, móvel, gratuito, intuitivo e em direto, são fluentes em línguas e o seu ciclo social e de amizades, outrora construído na escola e na convivência com familiares e vizinhos, é agora alargado ao mundo inteiro.

Os “individualistas sociais”

Os “individualistas sociais” criaram uma nova fantasia. A ideia virtual. A ideia de interagir virtualmente e anonimamente numa realidade sem presença física. Com uma enorme quantidade de informação disponível para interpretar, comparar, experimentar e concluir, têm maior consciência de processos pragmáticos. Rapidamente interpretam situações reais sobre as mais variadas experiências de vida e a velocidade da mudança é exponencialmente maior à medida que o processo se repete. Têm uma grande consciência do bem-estar individual.

Os adolescentes do século XXI, Cientes da importância da virtualidade na sua vida social, económica e emocional e na posse de muito mais informação, criaram um paradigma diferente do anterior. As redes sociais e a internet trouxeram a estes adolescentes amizades fáceis, onde a troca de informação e as ferramentas de comunicação possibilitam, por um lado, relacionamentos mais rápidos, mas, por outro, menos consistentes, no plano pessoal e afetivo, mas com mais oportunidades a nível de realização profissional. As interações exigem muito menos deslocação e presença física e a comunicação ubíqua permite o desenvolvimento de tarefas em simultâneo, permitidas pela capacidade móvel de armazenar, organizar e comunicar dados muitas vezes intuitivamente.

Estas experiências, pela sua velocidade, possibilitam o surgimento de novos conceitos, arrasando de vez com os as noções de um passado recente e mandando outros contos para consulta na Torre do Tombo.

O Lobo

O Lobo, no seu processo de crescimento, recebe os mesmos valores que o Capuchinho. Quer na motivação, quer no desenvolvimento sexual, têm as mesmas oportunidades e o mesmo estímulo. Nascer Lobo deixou de constituir vantagem.

Os rapazes e as raparigas são educados sem memória do tempo em que o Lobo comia a avó. A avó do Capuchinho já foi literalmente comida nesta estória também. Agora uma nova era surge: O Capuchinho Vermelho eficazmente e sem barulho soube aproveitar a conjuntura e matou séculos de lobos maus numa década.

O lobo é acordado às quatro da manhã. A Capuchinho com ar entediante manda-o embora porque dali a quatro horas tem exame de biofísica. Como chove torrencialmente, ela entrega-lhe o Capuchinho Vermelho. Ao sair de Capuchinho Vermelho o Lobo é abordado pelo próprio Lobo. Este lobo deixou de ter género.

A avó deixou de viver na floresta. A maior parte das florestas foi destruída pelos últimos incêndios. As avós modernizaram-se. Independentes, abraçaram a internet e os chats de engate.  Aderiram a pizzas entregues ao domicílio e ajudam com parte da reforma os netos lobos enquanto arranjam namorados por catálogo.

-A menina quer o lobo?

-Eu não quero cordeiros.

-Mas o lobo não é mau?

-Já teve melhores dias.

-Já domesticou o lobo?

-Eles já nascem domesticados.

-O lobo é o herói?

-O lobo será herói quando me acompanhar no caminho das agulhas e morrermos os dois embrulhados no lençol branco.