O que é a verdade? Qual a sua importância na vida concreta das pessoas? A quem poderá interessar que seja a verdade a ser divulgada e não a mentira? Quem diz a verdade? Quem pode fabricar a verdade? Quem são, como são e quantos são os que controlam de forma mais significativa a criação de realidade? A internet deve ser regulada? Quem cuida da segurança dos dados na rede? Estas e outras questões terão que ser equacionadas e respondidas se quisermos entender um modelo de gestão planetário, onde não se crie desigualdades, injustiças e mesmo se perca a médio prazo o controle do próprio ecossistema.

A internet é usada para vender, para ganhar eleições, para persuadir, para aglomerar nichos de mercado, para comunicar, para contra informação. Vale cada vez mais tudo para atingir notoriedade.

Nunca foi tão fácil ter um site na internet, mas nunca foi tão difícil dar-lhe visibilidade. Esta circunstância fez proliferar estratégias onde interessa menos o cultivo da credibilidade e mais quantas page views a informação atinge. A democratização do acesso à internet e a facilidade da forma de propagação da informação a nível local, regional e global, vieram trazer as variáveis necessárias para uma tempestade perfeita. Os conteúdos também são obrigados a adaptarem-se a públicos específicos, nichos de mercado com gostos e necessidades de informação particular, mas para uma grande maioria da população, que começa agora a utilizar a internet e começa agora a interpretar informação, os conteúdos só têm de ser para consumo rápido e que vão de encontro a ansiedades imediatas. Portanto, não tem de ser verdade, nem úteis, só têm de entreter, cativar e atingir os objectivos dos emissores.

A forma de vender através da publicidade, que paga os conteúdos, o monopólio das grandes empresas como o Google e o Facebook, os algoritmos usados por estes para aproximar o consumidor dos produtos que estes exatamente desejam em cada região e a facilidade de levar a informação ao consumidor, assim como a falta e dificuldade de regulação, vieram trazer legitimidade, facilidade e a elaboração de estratégias a pessoas e grupos pouco interessados na ética e na questão da sustentabilidade e efeitos no ecossistema real para inventarem informação dirigida a públicos pouco esclarecidos que entretanto começaram a aceder à internet em massa com o único intuito de os fazer comprar produtos, persuadi-los a agir de uma determinada maneira e nunca a esclarecê-los.  

A informação e a contra informação é tão grande e diferenciada e é fabricada consoante os interesses do consumidor e os seus gostos. Os produtores de informação, quando organizados,  visam quase sempre interesses económicos e políticos, mas também há produção de informação meramente opinativa quando se trata do utilizador comum, cuja opinião não interessa se é verdade, útil ou correta, mas interessa sim para obter dados por parte dos produtores de conteúdos para depois dar-lhes o que eles procuram consumir sem os contrariar.

A rede social de Zuckerberg, o Facebook, por exemplo, é acusada por Edward Snowden, o agente da Cia que divulgou informação confidencial da agência americana para o público em 2013, de ser cúmplice e de vender informação privada de milhões de utilizadores a empresas que depois a usou para obter vantagens nas suas actividades. A somar a isto as quebras de segurança, que de facto tem sido um problema, mas que não justificam só por si a chegada da informação com 50 milhões de perfis do facebook à empresa Cambridge Analytica, que trabalhou com a campanha pelo Brexit e pela eleição de Donald Trump.

Em um mundo global, com características locais, a grande sensação que chega a um cada vez maior número de pessoas é, por um lado, de descrédito, e por outro de democratização das possibilidades. Estes dois fatores estão a tornar a possibilidade da necessária gestão da informação quanto à sua credibilidade numa amálgama de conteúdos onde cada vez mais o cultivo da individualidade e a agressividade nesse cultivo é a única consequência para além da degradação do ambiente real, das relações humanas e da gestão de tudo como um todo onde tudo depende de tudo e é limitado ao planeta.