Espanholes, Franco ha muerto.

Foi desta forma que há 43 anos, Arias Navarro, então primeiro-ministro espanhol, anunciou a morte do ditador espanhol. Em lágrimas, leu o testamento político de Francisco Franco.

Franco subiu ao poder depois de vencer a guerra civil que opôs republicanos e nacionalista e que teve origem num golpe de estado contra a república liderado por Francisco Franco. Assumiu as funções de chefe de governo em 1938, cargo que ocupou até 1973. Morreu, aos 83 anos, em 20 de Novembro de 1975. Antes declarou a restauração da monarquia e nomeou rei Juan Carlos de Borbon.

Para assinalar a morte em Espanha a igreja católica autorizou11 missas. O seu bisneto, Luis Alfonso de Borbon, utilizou as redes sociais para homenagear o ditador. No centro de Madrid e no Vale dos caídos houve manifestações a favor e contra a exumação das ossadas do ditador. Ao final do dia foi lançado o movimento para que Francisco Franco seja reconhecido como santo da igreja católica.

Franco nunca foi consensual na democracia espanhola, mas nos últimos meses a clivagem tem aumentado.
A 13 de Setembro, ao abrigo da lei da memória histórica, o governo espanhol aprovou a exumação das ossadas de Franco do Vale dos caídos, onde está desde 1975. O Vale dos caídos recebe por ano cerca de 500 mil visitantes, mas a polémica em torno da retirada das ossadas do ditador parece ter feito aumentar o número de visitas.

Mandado erguer por Franco, neste Vale estão 35 mil mortos dos dois lados da guerra civil espanhola. Foi este o argumento utilizado pelo governo de Pedro Sanchez para promover a remoção. Francisco Franco não morreu durante a guerra civil pelo que, segundo o governo socialista, não pode estar no monumento. O Partido Popular que se opôs a esta medida desde o início, parece agora disposto, pela primeira vez na sua história, a subscrever uma moção que condena o franquismo. A moção será apresentada no senado espanhol pelo PSOE. O PP espanhol admite votar a favor, com a condição de que o Governo deixe cair a exumação do cadáver do ditador.

Franco e Salazar

O apoio logístico de Salazar foi fundamental para o triunfo do golpe de Estado de Franquista.

Apesar de não intervir directamente na guerra civil espanhola, Portugal permitiu a passagem de abastecimentos vindos de Itália e Alemanha para o bando nacionalista.
Em Fevereiro de 1942, em plena 2ª Guerra Mundial, Franco encontra-se pela primeira vez com Salazar. Um encontro secreto no Alcazar de Sevilha, que serviu para acertar agulhas na estratégia de não beligerância ibérica no conflito. Este seria o primeiro de sete encontros entre os dois ditadores.

Os encontros seguintes revestiram-se de formalidade como a visita em 1949 em que Franco recebeu o título de Dr. Honoris Causa da Universidade de Coimbra ou mais informais como no verão de 1950 quando Salazar visitou a residência de verão da família Franco.

As personalidade opostas, Salazar austero e Franco mais expansivo, não impediram uma relação de proximidade. Mas para a historiadora Maria Inácia Rezola “não se pode falar de amizade entre Franco e Salazar.” Segundo a investigadora da Universidade Nova de Lisboa, esta era “uma relação cordial num ambiente de bom entendimento que foi mais além do que a mera relação institucional entre dois chefes de estado”. Salazar comentou a vitória franquista na guerra civil espanhola com um lacónico “vencemos, eis tudo.” Franco, em entrevista ao jornal francês Le Figaro, descreveu o ditador português como “o mais completo e mais digno de respeito estadista que conheci. Olho-o como uma personalidade extraordinária pela sua inteligência, o seu senso político, a sua humanidade. O seu único defeito é a modéstia”.

O último encontro entre os dois ditadores ibéricos aconteceu em Maio de 1963 na cidade espanhola de Mérida.

 

Ligações:

https://www.elmundo.es/cultura/laesferadepapel/2018/11/20/5bf2a3af468aeb2a6e8b45b5.html

www.francosanto.es

https://www.eldiario.es/focos/memoria_historica/