Brainwash

E se alguém conseguisse plantar uma ideia na sua cabeça, de forma subliminar, levando-o a agir de acordo com a vontade de outro? Sim é possível. E é mais fácil do que imagina.

“The Spinner”, lançado em Janeiro deste ano, é um serviço online que permite controlar conteúdos apresentados a uma pessoa específica de forma a manipular o seu comportamento. Ainda não está disponível em Portugal.

Por apenas 29 dólares, o cliente recebe um link inofensivo que por sua vez envia para o seu “alvo”. Os conteúdos vão sendo apresentados nos dispositivos eletrónicos usados pelo visado durante aproximadamente três meses. Uma técnica que tem por base o poder da sugestão.


O pacote mais vendido é aquele que predispõe a mulher a tomar a iniciativa no que toca ao sexo. Neste caso específico, a navegação na internet da visada será inundada de artigos reais, previamente escolhidos por especialistas, para a convencer a dar o primeiro passo.

A juntar-se ao pacote dos mais vendidos, está a adoção de um animal de estimação, onde os principais clientes são adolescentes que querem levar os seus pais a aceitar a ideia de ter um animal doméstico.

Um dos primeiros pacotes criados, mas que se tem revelado um fracasso, embora a empresa ainda o mantenha, é o de deixar de fumar. Segundo Elliot Shefler, responsável pelo Marketing da empresa, “ninguém o quer”.

Nova Tecnologia? Nem por isso!


Claro que isto não é realmente uma nova tecnologia. A empresa, registada em Londres, utiliza apenas o mesmo que milhares de empresas no mundo digital – cookies. Em teoria, os dados que são salvos nos nossos dispositivos eletrónicos quando visitamos sites, permitindo que eles guardem coisas sobre nós, são uma ideia prática que ajuda a economizar tempo. A recente mudança na legislação da UE, que significa que as empresas devem solicitar o nosso consentimento para registar os nossos dados, mostrou exatamente com que frequência os usamos.


A experiência do navegador agora é bombardeada com pop-ups em busca de permissões. Somos levados a pensar que os cookies são em grande parte o resultado do nosso próprio histórico de navegação que aprende a prever as coisas de que gostamos, e que compramos, quando na verdade são cada vez mais os nossos hábitos que estão a ser  direcionados para terceiros. 
Os cookies não são assim tão simples. Eles manipulam as nossas atitudes.
E podem ajudar pessoas a ganhar eleições.

Cambridge Analytica

Em declarações ao Financial Times, Shefler refere “Costumávamos fazer políticos, mas, depois da Cambridge Analytica, só fazemos marcas.” E argumenta que a plataforma não quebra as leis. “Digamos que entra no site da Nike e tem um cookie, e que depois vai para outro site, irá ver conteúdos relacionados com a Nike.

Refere ainda que depois do escândalo com a Cambridge Analytica, toda a gente se assustou porque se percebeu que afinal alguém tinha os nossos dados e que podiam criar perfis e segmentá-los. Mas nas redes sociais ou no negócio de vendas de anúncios, todos sabiam disso. Na grande maioria das vezes nem sabemos quem nos está a mostrar um determinado conteúdo. A única diferença no “The Spinner” é que é o cidadão comum que segmenta o outro.

“Costumávamos fazer políticos mas, depois da Cambridge Analytica, só fazemos marcas.”

Desde que foi lançado em Janeiro deste ano, e começou a ser divulgado em Março, mais de 5 mil pessoas pagaram para usá-lo. 
Atualmente tem menos de 500 clientes.


Shefler afirma, orgulhoso, a que sua empresa não tem concorrência. Acredita que isto se deve ao facto da natureza controversa da recente aplicação. Reconhece ainda que o conceito tem potencial para poder ser mal utilizado e entende que tenha colhido algumas reações negativas: “Você pode usar este produto para fazer coisas negativas ou coisas positivas que depende da sua posição”, diz ele.

É legal? Sim!

“Hoje, no vasto mercado de média online, o anexo de cookies é legal. Terceiros podem recolher ou receber informação sobre os utilizadores, com vista a fornecer conteúdo, publicidade ou funcionalidades ou ainda para medir e analisar o desempenho de um determinado anúncio”, conclui Elliot Shefler.